HARMÔNICA: A NOSSA GAITA DE BOCA


Concepção

A harmônica de boca, gaita de boca ou simplesmente gaita, também conhecida como realejo em algumas partes do nordeste brasileiro, é um instrumento musical de sopro cujos sons são produzidos por um conjunto de palhetas livres.

O que são palhetas livres? São pequenos pedaços de metal, presos à uma chapa, chamada placa de palhetas. Cada tamanho de palheta corresponde a uma nota musical.

A gaita possui em sua embocadura um conjunto de furos por onde o instrumentista sopra ou aspira o ar.

O gaitista pode usar as mãos em concha para produzir variações de intensidade.

Quando executada em conjunto com outros instrumentos, é comum que ela seja amplificada pela utilização de um microfone. O bluesmen que toca a gaita diatônica comumente utiliza-se de um, em específico, conhecido como bullet. O harmonicista que toca a cromática já prefere o microfone utilizado para voz (direcional), pela clareza e definição, porém, nenhuma dessas descrições é regra. Sempre há excessões.

A gaita é bastante usada no blues, rock, jazz e música erudita. Também são muito comuns os conjuntos compostos apenas de gaitas, as chamadas Orquestras de Harmônicas, que normalmente tocam músicas tradicionais ou folclóricas.

Os grupos de gaitas que podemos destacar: Os Harmônicos, Orquestra Harmônicas de Curitiba, Orquestra Paulista de Gaitas, Harmonicats, Adler Trio, Troupe da Gaita, Harmonipops, entre outros.


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História

A gaita teve sua origem em um antigo instrumento chinês, o SHENG, que foi inventado há quase cinco mil anos, na dinastia do "imperador amarelo" HUANG-TI.

Os antigos chineses acreditavam que a música possuía poderes mágicos e origem era ligada à natureza.

O primeiro teórico da música chinesa foi o sábio Ling Lun. Por volta de 2.500 de Cristo ele ordenou, sistematizou e deu nome às notas da escala pentatônica: (fá) representava o Imperador; Che (dó) o Funcionário; Chang (sol o Ministro; (ré) o Camponês e Kio (lá) o Burguês. A escala pentatônica (cinco sons) era a "escolhida", porém, mais tarde deixou de ser pentatônica e passou a ter sete notas.

O sistema de escala chinês (sistema Lyu), baseado em tubos diapasões que relações de intervalos foi criado no reinado de Huang-Ti (2698 a.C. a 2598 Este sistema continua em uso até hoje com pouquíssimas alterações. Não houve um sistema de notação, pois um decreto imperial em 212 a.C. ordenou de todos os livros. Apesar disso, a música sobreviveu através de ensinamentos tradicionais e influenciou a música de todos os países do leste asiático.

O grupo de gaitas Harmônicos, de São Paulo, possui o SHENG e, através de um workshop em todo o Brasil, demonstra o som do instrumento, contando a história da gaita de boca desde a China antiga até hoje. O Ponto da Gaita apóia este projeto!

O Sheng funciona pelo princípio de palhetas livres. Cada tubo de bambú possui uma palheta. Esta técnica de produção sonora gerou uma grande família de instrumentos acionados por foles ou bombas de ar, como o acordeão e a melódica. Em órgãos é comum que alguns tubos sejam flautados e outros utilizem palhetas livres para produzir sons com timbres diferenciados.

Em 1821 um alemão chamado Christian Friedrich Buschmann, filho de um inventor de instrumentos musicais, seduzido pelo sucesso do pai, inspirou-se e inventou um instrumento semelhante à gaita atual com 15 palhetas e 10 cm de comprimento, chamando-o de AURA. Vários relojoeiros da época copiaram seu invento, porém, apenas em 1857, um outro relojoeiro alemão, Matthias Hohner, fundou uma companhia, convocando todos os familiares para a repentina produção e começou a fabricar as chamadas harpas de boca ou órgãos de boca com 10 furos. O instrumento passou a vender muito bem na Alemanha, França, Itália e Estados Unidos.

Na Europa a gaita se tornou um instrumento muito popular na música folclórica e surgiram bandas e orquestras especializadas neste instrumento. Nos Estados Unidos foi muito utilizada na música country. Com o surgimento do blues no início do séc. XX, a gaita chegou ao seu auge e daí garantiu a participação em outros gêneros musicais, como o jazz, o folk, o rock e até a música erudita.

Hoje com a popularização do instrumento existem alguns fabricantes de gaitas espalhados pelo mundo: Hering Harmônicas no Brasil, Hohner e Seydel na Alemanha, a Suzuki no Japão e a Lee Oskar nos EUA, etc.



 


Definições 

Diatônica: escala que mistura tons e semi-tons (do, ré, mi, fá, sol, lá, si, por exemplo).

Cromática: escala que oferece intervalos de semi-tons (do, do#, ré, ré#, mi, fá, fá#, sol, sol#, lá, lá#, si e do, por exemplo).

Oitavada: harmônica que dispõe duas notas iguais para serem tocadas ao mesmo tempo, porém em oitavas diferentes.

Trêmolo: harmônica que dispõe duas notas p/ serem tocadas ao mesmo tempo, com a mesma altura, porém com uma diferença mínima de afinação entre elas, dando o efeito de "chorus" ou "trêmolo".




 

DIATÔNICA

CROMÁTICA

A harmônica  diatônica é a preferida dos bluesmen, porém também utilizada no reggae, no folk americano e no country;
  • Possui dez orifícios, comumente;
  • Dez notas sopradas e dez notas aspiradas;
  • Geralmente o harmonicista possui doze harmônicas deste modelo, cada uma em um tom (existem 12 tonalidades maiores);
  • Alguns harmonicistas desenvolveram habilidade para tocar em apenas uma harmônica em DÓ o que se toca em doze, ou seja, são virtuoses do instrumento em sua técnica diferenciada;
  • A escala do, ré, mi, fá, sol, lá e si está disponível três vezes no modelo em DÓ maior (representado pela letra "C") -  grave, médio e agudo, porém, algumas notas estão "escondidas", podendo ser alcançadas apenas com uma técnica chamada "Bend";
  • Outras notas, além das mencionadas acima, também estão "escondidas", podendo ser alcançadas apenas com uma técnica avançada chamada "overblow" e "overdraw" - é o que se diz da "cromatização da harmônica diatônica" - veja o dicionário, se necessário.
A harmônica  cromática é a preferida por muitos jazzistas e instrumentistas de bossa nova, mpb e chorinho. O tango também é benvindo neste instrumento, que com certa técnica assemelha-se ao acordeon ou ao bandoneon;
  • Possui dez, doze, quatorze ou dezesseis orifícios, de acordo com o modelo;
  • É a "gaita da chave" - possui um recurso mecânico que pode ser chamado de chave, registro, etc. Através deste mecanismo é possível acessar todas as notas do teclado de um piano (teclas brancas e pretas);
  • Na harmônica cromática de doze orifícios (a mais comum), temos doze notas sopradas, doze notas aspiradas, doze notas sopradas com a chave apertada e doze notas aspiradas com a chave apertada, totalizando 48 notas (vozes);
  • Geralmente o harmonicista possui apenas uma cromática em dó (C), desenvolvendo todos os tons em apenas uma harmônica;
  • A escala do, ré, mi, fá, sol, lá e si está disponível três vezes no modelo em DÓ maior (representado pela letra "C") -  grave, médio e agudo;
 
 

 
 

OITAVADAS

     As notas musicais das harmônicas oitavadas são produzidas pela vibração simultânea de duas palhetas afinadas com "intervalo de oitava", isto é, uma palheta grave e uma palheta aguda com afinação justa.

     Estas harmônicas também são utilizada principalmente para música popular e folk, produzindo um som potente, cheio sem nenhum tremolo.

     Os modelos duplos são a conjunção de duas harmônicas constituindo um só instrumento com duas afinações em tonalidade diferente com um intervalo de quinta. 

TRÊMOLO

     Harmônicas cujas "vozes" (notas musicais) são produzidas pela vibração simultânea de 2 notas iguais, mas com uma mínima diferença de afinação de tal maneira a criar um efeito tremolo quando tocadas juntas.

     Estas gaitas não permitem facilmente a aplicação do "Bend" e de forma alguma permitem o "Over Blow" e o "Over Draw", portanto, não são apropriadas para tocar blues, country, rock e etc., embora possam ser aplicadas em alguns temas ou trechos destes gêneros musicais.

São gaitas bastante utilizada para tocar música folclórica, regional, sertaneja, entre outras. Os modelos são muito diferenciados na forma, sonoridade e afinação.